Cidade suíça volta a ser o ponto de encontro da elite econômica e política, reunido 2.600 líderes mundiais e empresários. Pela primeira vez manifestantes estarão presentes.

 
O caminhão limpa-neve teve muito trabalho nas ruas próximas ao centro de convenções de Davos, na Suíça, nesta terça-feira (24/01), véspera do início de mais uma edição do Fórum Econômico Mundial. A neve voltou a cair forte durante a madrugada, obrigando os organizadores a agir rápido para poder receber os cerca de 2.600 participantes.
Desde 1968 a pequena cidade nos Alpes suíços não via tanta neve como nas últimas semanas – e não para de nevar. Todos os caminhões limpa-neve estão nas ruas, mas totalmente livres os caminhos da cidade dificilmente ficarão.
Estado de exceção
"A cidade mais alta da Europa", como o pequeno lugarejo de 13 mil habitantes gosta de se apresentar, encontra-se em estado de exceção. Forças de segurança bloqueiam ruas e estradas, e o trânsito cotidiano é obrigado a buscar rotas alternativas.
"Quem precisa agora de um eletricista não vai encontrar nenhum. É preciso esperar o Fórum Mundial Econômico acabar", diz o morador Hansruedi Bertschinger, de 55 anos, que aluga residências de férias.
Os preços durante o Fórum são proporcionais à demanda, que é elevada. Uma residência simples com dois quartos custa 7.000 francos suíços, aproximadamente 13.000 reais, por uma semana. E esse preço ainda é uma pechincha. Alguns chalés são alugados por 100 mil francos (188 mil reais) por semana.

A estada mínima é de cinco noites, ninguém aluga para apenas um dia nessa época do ano. Os hotéis estão com todos os quartos reservados há meses.
Os moradores de Davos lucram com o Fórum Econômico Mundial, e por isso poucos reclamam quando ficam presos no trânsito ou quando não conseguem chegar ao seu café favorito porque o caminho se encontra numa área de segurança.
A estreia dos protestos 
O tema do Fórum Mundial Econômico desse ano é "A grande transformação – criando novos modelos". O presidente do Fórum, Klaus Schwab, que fundou o encontro em 1971, fala de uma "Síndrome de Burnout global" diante da crise da dívida e da situação de alerta na economia mundial.
Nesse sentido, Davos deverá debater alternativas ao modelo anglo-saxão de capitalismo. Assim, não é de se estranhar que neste ano também os críticos do capitalismo tenham lugar em Davos: o movimento Occupy construiu uma vila de iglus para protestar e alertar contra o sistema econômico dominante. A iniciativa partiu da comunidade local, para apagar um pouco a imagem de "fortaleza dos ricos" que o Fórum dá a Davos.
Temas abundantes
No primeiro dia as atenções estão voltadas para o aguardado discurso da chanceler federal alemã, Angela Merkel, que abre o encontro na noite desta quarta-feira. A política econômica alemã se mostrou eficiente apesar – ou por causa – do limite de endividamento previsto em lei. Outros países priorizaram o crescimento através de dívidas e acabaram numa situação desastrosa.

No entanto, o modelo alemão é visto com respeito, mas não com simpatia. Há dúvidas se ele pode ser aplicado em outros países, e há quem defenda programas de estímulo econômico financiados com crédito, ou seja, criando mais dívidas.
Os 2.600 participantes, entre eles 40 chefes de Estado e de governo e 1.600 empresários, terão muito o que discutir em Davos em 2012. O bilionário George Soros, que na condição de especulador já apostou contra a libra esterlina, foi visto num modesto restaurante da cidade. Nesta quarta-feira ele fará sua avaliação sobre a crise do euro. Mas antes muita neve ainda precisa ser removida das ruas, para que os participantes possam chegar até o local do encontro.