Opinião
Não há contradição nas ações do governador de Pernambuco, posto que as referências socialistas de raiz, foram-se com Miguel Arraes. Com formação jurídica e convicção democrática, o ex-governador sempre foi intransigente com questões que flexibilizem princípios. Não foi a toa que se transformou em ícone das esquerdas.
Todavia, no mundo atual, a realidade de um país que se quer emergente implica em novas posturas dos governantes. A nova visão de um estado moderno requer que os governantes fujam das amarras ideológicas e exige novos modelos de ação. Afinal, a realidade pede pressa e o povo cobra resultados e não carteira e coerência partidária.
Portanto, nada mais confortável para um governante do que adotar nas suas decisões, o pragmatismo da direita e o oportunismo das esquerdas. A realidade emergente do mundo moderno permite tudo. E os avanços, sejam pela direita ou pela esquerda, são caminhos aparentemente controversos que conduzem a resultados e à aprovação popular.
No governo de Pernambuco identifica-se a adoção, consciente ou não, das referências funcionais do capitalismo de estado. Parâmetros desse modelo foram incorporados ao governo e são implementados por gestores que nem sempre cultivam as teses socialistas nem tampouco tem interesses intelectuais ou ideológicos por suas cartilhas.
Na região nordeste, a transparência desse modelo reluz, graças ao estilo liberal do Governador. Com marcante presença na mídia e em requintados camarotes momescos, convive com todas as tribos e cultua todas as cores e ritmos, em soberba maratona política.
Presidente de um partido que se apresenta socialista, preserva alianças com vários matizes políticos e, mantém a onipresença do Estado e a estreita articulação com o mercado. Por mais que se negue, o pragmatismo administrativo e o oportunismo político, dão forma a imagem do governo e a fisionomia política do seu governante.
Diante disso, compreende-se a preservação, tanto do viés estatizante, caracterizado pelos excessos de secretarias e de órgãos públicos e dos programas sociais clientelísticos; quanto o privatizante, identificado pelas parcerias e concessões de exploração pela iniciativa privada; bem como pelo envolvimento desta, com áreas estratégicas do governo, seja na governança, na execução e no monitoramento de ações públicas.
Ressalte-se, contudo, que na esfera do governo federal, essa dubiedade ideológica não é inédita, pois foi marcante no Governo Lula. Como exemplos, pode-se citar a adoção do Plano Real e o apoio financeiro aos grandes grupos empresariais; a transferência de renda, através da ampliação dos programas sociais, entre os quais o bolsa família; a ampliação desmedida do crédito; e, a utilização das ONGs, como pretensa intermediação entre o governo e a sociedade.
É nessa perspectiva que deve ser visto o nosso modelo de governança pública.
Portanto, não parece feliz a idéia de se buscar contradições. Nas ações do governo pernambucano, essa busca será inócua, diante da ausência de qualquer pilar socialista predominante, a não ser daqueles que ilustram as cartilhas e os discursos do artificialismo partidário.
Carlos Alberto Fernandes é Economista e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco
0 Comentários