O subproduto é a transformação do Brasil numa colônia da China, da qual não devemos ter queixas, mas inveja
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| De Sarney a Dilma, voltamos à produtividade relativa de 1969
Não é sem motivos que a sociedade brasileira revela um profundo desencanto com a política. Foi levada a acreditar em soluções mágicas que violam as restrições físicas que condicionam qualquer economia.
A grande verdade é que, nas três últimas décadas (1980-2018), estamos em plena regressão econômica relativa à economia dos Estados Unidos. Compara-se muito mal com o progresso das três décadas anteriores (1945-1980), como se vê no gráfico abaixo, que revela a evolução do PIB per capita do Brasil em porcentagem do americano.
Podemos, sem incorrer em grave equívoco, dizer que o PIB per capita de um país é um indicador aproximado da produtividade da sua população. O que nos dizem os números? Que, ao final da Segunda Guerra Mundial, a produtividade dos brasileiros era apenas 15% da dos americanos. A partir daí, com idas e vindas, fizemos um grande esforço para chegar, no início dos anos 80 do século passado, a dobrar a produtividade relativa brasileira, que chegou a 36%.
Em meados dos anos 70, uma pavorosa crise mundial abateu-se sobre todos os países cujas economias dependiam da importação de petróleo (o Brasil importava 80% do seu consumo), o que exigiu um “ajuste” externo de proporções cavalares para zerar o déficit em contas correntes. Não por virtude, mas por necessidade, uma vez que não tínhamos crédito. O Brasil foi o primeiro país a ajustar-se, mas o último a negociar a sua dívida, graças ao insensato default no governo Sarney.
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Ela só foi negociada pelo competente futuro ministro Pedro Malan, no governo do grande presidente Itamar Franco, que preparou as bases para o bem-sucedido Plano Real. Uma pequena joia que honrará para sempre seus autores. Infelizmente, seu imenso sucesso no combate à inflação foi aproveitado para conseguir a reeleição em lugar de acelerar o crescimento.
Nossa produtividade relativa caiu até se estabilizar em torno de 26% no segundo mandato de FHC e no primeiro de Lula. No segundo de Lula há uma recuperação importante, por conta da crise financeira americana, para qualquer coisa como 30%, até voltar, dramaticamente, a 26% no segundo mandato de Dilma. De Sarney a Dilma, voltamos à produtividade relativa de 1969. Trinta anos de decadência que deixaram como subproduto a transformação do Brasil numa colônia da China, com relação à qual não devemos ter queixas. Devemos ter inveja.
É este o Brasil que encontrará o próximo presidente. Mas não será seu maior problema. Desde a Constituição de 1988, o País assiste à emergência de uma burocracia não eleita que, por delegação da autoridade eleita, escapa aos famosos controles de checks and balances que sustentam a República. Constituíram-se em múltiplas e conflitantes “agências reguladoras”.
Seus membros são escolhidos por concurso público ou pela autoridade eleita com a aprovação do Poder Legislativo. A elas deram-se poderes especiais (mandatos fixos e inamovibilidade) justificados, paradoxalmente, pela necessidade de protegê-los de toda pressão política.
Assim, as decisões políticas são entregues a cidadãos “não políticos” (advogados, economistas, engenheiros etc.) que seriam, por definição, portadores de um saber técnico (às vezes, pretendido científico) e, portanto, acima da compreensão do eleito e do seu eleitor.
Com isso, abre-se um déficit democrático que exige alguma forma de combinar a pretendida competência profissional com o pretendido desejo do eleitor expresso na escolha do seu eleito. A velha divisão do trabalho entre três poderes independentes, mas harmônicos, parece já não dar conta do recado diante da evolução de nossas instituições. Precisamos saber como enfrentará essa questão o futuro “salvador da pátria”.
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