Por: Reinaldo Azevedo
Publicada: 11/12/2018 - 16:26
Como disse certo sábio, rsrs, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, acerta quando recua e erra quando avança. Estamos diante de mais um possível recuo do futuro presidente. Como eu era crítico de sua disposição anterior, resta-me, então, dizer que ele está no caminho certo.
O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que tudo caminha para o Brasil permanecer no chamado “Acordo de Paris”. Disse: “A minha tendência… é dizer que nós não devemos deixar o acordo”. É o certo. Como sabem amplamente os leitores, é o que sempre defendi aqui. Quem tem de se explicar são os puxa-sacos, né?
— Bolsonaro vai deixar o Acordo de Paris…
— Isso, Mito, deixe mesmo! Temos de cair fora…
— Bolsonaro não vai deixar o Acordo de Paris…
— Isso, Mito, não deixe, não! Temos de ficar dentro…
— Bolsonaro vai deixar o Acordo de Paris…
— Isso, Mito, deixe mesmo! Temos de cair fora…
— Bolsonaro não vai deixar o Acordo de Paris…
— Isso, Mito, não deixe, não! Temos de ficar dentro…
Ao afirmar que é possível que o país permaneça no acordo, Ricardo Salles, futuro ministro, disse o seguinte:
“Mas, por outro lado, isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente internamente”.
“Mas, por outro lado, isso também não significa que nós devemos aceitar toda e qualquer sanção, restrição e programa de maneira indiscutível. Todos os países têm que respeitar a autonomia brasileira para gerir seu território e decidir suas políticas do meio ambiente internamente”.
Perfeito! Mas quem foi que disse que o Acordo de Paris é um documento sobre sanções? O tratado está aqui. Tentem achar ali uma só cláusula que fira a soberania dos países signatários. Não existe. Até porque seria algo alheio à razão e à lógica. Se pertencer ao acordo implica perder autonomia, por que os países o fariam? Seria um elemento a desestimular a associação.
Ocorre que uma das peças da campanha de Jair Bolsonaro na Internet foi a falácia de que o país havia rendido a sua soberania ao acordo sobre o clima. A ala mística do governo, liderança pelo prosélito de extrema direita Olavo de Carvalho, que tem Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores, como seguidor, finge acreditar — para que os tolos acreditem — que o Acordo de Paris é mais um dos cavalos de Troia do comunismo, em seu trabalho incansável para criar um governo mundial, que seria gerido por um ente de razão de esquerda, financiando por George Soros. Isso alimenta a paranoia de lunáticos e, claro!, assegura o poder dos gurus…
Ocorre que, felizmente, os negócios existem; o agronegócio existe. E Ricardo Salles conhece bem o setor. Sabe que deixar o acordo seria colocar sob suspeição as commodities agropecuárias do país. O Brasil se comprometeu em cortar 37% das emissões de carbono até 2025 e 43% até 2030. Querem saber de uma coisa? Não vai cumprir essa meta nem a pau, Juvenal! E daí? Vai acontecer o quê? Resposta: nada! O Acordo de Paris nem abunda nem prejudica. Mas deixá-lo seria extremamente prejudicial para o país. Isso é coisa para a parolagem de Donald Trump, a quem cabe arrumar, por razões óbvias, mas apenas até determinado limite, encrenca com a China, a maior poluidora do planeta e, com efeito, muito pouco respeitadora de acordos sobre redução de poluentes…
Mas como pode? Com aproximadamente 20% da população do planeta, a China tornou-se o principal motor do crescimento econômico de parte considerável dos países, incluindo o Brasil dos tempos em que cresce… Pode criar as suas confusões. E hoje disputa poder com os EUA. O papel do Brasil é outro. Se a gente resolver ter um faniquito, quem se importa? Os seguidores da Igreja dos Santos Olavistas do Fim do Mundo ficarão satisfeitos, e o país vai para o brejo.
Se o Brasil voltar a crescer, é claro que a meta de redução de carbono não será cumprida. Será preciso rever as metas. E uma boa condição para que volte a crescer será permanecer no Acordo de Paris para poder, então, desrespeitar o… Acordo de Paris. Aí se refaz o pacto.
Esse negócio de complô comunista para dominar o mundo é tudo mentirinha. Nem os paranoicos de carteirinha acreditam nisso. Mas fingem acreditar para manter mobilizados os paranoicos sem carteirinha, perdidos na esgotosfera.
Sair do Acordo de Paris e pauta típica da direita xucra. Que seja domesticada pelo mundo real!
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