A cotação do combustível cai para menos de cinco dólares e arrasta as Bolsas de Nova York e Madri . No Brasil, Ibovespa também recua
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| Uma bomba de petróleo em funcionamento ao amanhecer perto da localidade texana de Midland, Estados Unidos.EFE
Os tanques dos Estados Unidos não têm mais espaço para armazenar petróleo, que caiu para o menor preço neste século e ruma para a maior derrocada de sua história em um único dia. O barril do West Texas (WTI) custa menos de 5 dólares (27 reais) e chegou a perder três quartos do seu valor nesta segunda-feira, dada a excepcional redução na demanda como resultado da crise causada pela Covid-19. Seu colapso arrasta as Bolsas de Valores: o Dow Jones, de Nova York, abriu com quedas de cerca de 1% e o Ibex de Madri também fecha em baixa, ao contrário dos principais indicadores europeus. No Brasil, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário, também seguiu o movimento de queda. Às 16h15 recuava 0,57%, aos 78.542 pontos.
O mercado de petróleo começa a cumprir as profecias da Agência Internacional de Energia (AIE), que alertou na quarta-feira passada que este seria o pior ano da história dessa commodity. Com os Estados Unidos e meio mundo trancados em casa, não há compradores e os preços caíram 86% desde janeiro, chegando a alcançar os mínimos de 1986. Pouco adiantou o corte da produção em dez milhões de barris por dia pactuado duas semanas atrás. “Se o consumo de energia cai 30% e a OPEP reduz a oferta em 10%, ainda existe uma grande lacuna”, resume Elwin de Groot, chefe de estratégia macro do Rabobank, em declaração à Reuters. Sem carros nas estradas e aviões no céu, as economias afetadas por pandemias não precisam mais da quantidade projetada antes da crise.
Os contratos futuros também estão desabando porque as reservas armazenadas excedem a demanda e a perspectiva é que a desaceleração econômica continue a limitar o consumo. O contrato de junho para futuros do WTI cai 11%, para cerca de 22 dólares (117 reais) por barril. Nesse contexto, jogam para baixo as ações das companhias de petróleo na Bolsa de Nova York: o S&P perde em torno de 0,5% e o Nasdaq segue estável. A Europa, por sua vez, escapa à tendência.
Os pregões do Velho Continente continuaram a retomada, não sem timidez, e precisamente graças ao melhor comportamento do petróleo --o barril de Brent, referência no mercado europeu, cai 6% e custa em torno de 26 dólares (138 reais), menos da metade de antes da crise-- e os bons dados sobre a evolução da pandemia que vêm dos países mais atingidos pela Covid-19: na Espanha, o número de mortes diárias ficou abaixo de 400 pela primeira vez em um mês. Paris liderou os ganhos com uma alta de 0,65%.
A Bolsa de Madri é a única na zona do euro que fechou com perdas (-0,64%) e o Ibex se afasta dos 7.000 pontos, que deixou para trás na semana passada, depois das previsões pessimistas do FMI para a economia mundial. O indicador espanhol, no entanto, aguentou o limite de 6.800, que chegou a perder por alguns momentos do dia, afetado pelo setor financeiro e o turístico, bem como pelos novos prognósticos negativos para a economia: o Banco da Espanha prevê que o PIB pode cair até 13,6% em 2020 e afastou a tão esperada possibilidade de uma recuperação em forma de V.
Enquanto isso, as potências asiáticas estão dando novos estímulos: a China cortou as taxas de juros por um ano e o Japão lançou um plano de valor equivalente a 5,85 trilhão de reais. No entanto, a Bolsa de Tóquio recuou novamente, com perdas de 1,15%, após os dados ruins das exportações em março, que caíram 12% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Danos de longo prazo
Robert Lind, economista do Capital Group, lembra que as previsões macroeconômicas antecipam meses excepcionalmente difíceis para a economia mundial. “Estamos lidando com escalas de atividade em declínio que ninguém viu antes. O potencial golpe no PIB no segundo trimestre provavelmente excederá em muito o que vimos no pior momento da crise financeira”, diz ele em uma nota divulgada pela Reuters. De Groot vai mais longe: "Haverá danos a longo prazo para a economia, sobretudo para a psicologia do consumidor".
No mercado de divisas, o euro permanece em torno de 1,09 dólar. Já o prêmio de risco –a diferença entre a rentabilidade do título alemão de 10 anos e o da Espanha-- está novamente subindo com força e se situa perto de 135 pontos-base. O da Itália supera 230, no início de uma semana decisiva em Bruxelas: os chefes de Estado e de Governo se reúnem nesta quinta-feira para estabelecer uma solução europeia para a crise. A Espanha proporá a criação de um fundo comunitário de 1,5 trilhão de euros (8,7 trilhões de reais) em dívida perpétuas, mas qualquer estímulo parece insuficiente diante do maior choque econômico desde a Segunda Guerra Mundial.
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