Por Paulo André Leitão – De Ivan, guardo ótimas lembranças. Trabalhamos no Diário da Noite, o vespertino da empresa Jornal do Commercio, quando ele, Chefe de Redação, formou uma equipe mesclada por profissionais experientes e muitos jovens (eu, mais que jovem, ainda estudante): Raimundo Pancho, Rubem Mamão, Ral, Libório, Zenival, Paulo Santos, Bione, Paulo Cunha, Juliana Cuentro, Ana Farache, Gleide Selma, Vilma Almeida, Clara Iwata, Márcio Santana, Roberto Borges, Cláudio Motta, Rildo Melo, Gilberto Silva, Alécio Nicolak e mais e mais.

Ivan era onipresente no nosso dia a dia, apesar de distribuir bem o trabalho e delegar poder. Cobrava, elogiava, estimulava, ouvia, mediava conflitos, sempre nos questionava e ensinava com o exemplo e incontestável liderança. Criatividade e capacidade de trabalho aparentemente inesgotáveis, achou pouco publicar um diário e inventou o suplemento semanal DN Debate, cuja primeira capa (era o dia 16 de abril de 1979) disse a que veio: “Quatro mulheres em cima de Rubem Moreira”.

Juliana, Vilma, Clara e Mônica Tenório apertaram em entrevista o então poderoso e polêmico presidente da Federação Pernambucana de Futebol. Os temas das edições seguintes mantiveram o tom: O ensino deve ser pago? Os missionários: fé ou dinheiro?; Recife se salva da poluição?: Aborto no Recife; Homossexualismo feminino; Conflito urbano: o Recife em guerra; Estão matando os cinemas de bairro.

Com o tempo, o suplementou mudou a pauta. Ivan escreveu na edição de 7 de janeiro de 1980: “Foi com o objetivo de transformar a economia popular em uma coisa simples de se entender e boa de se discutir (tão boa quanto o futebol e a política) que o DN Debate escolheu esse tema para todo ano”.

O Jornal da Cidade circulou de outubro 1980 a agosto 1981

Tornei-me editor da novidade, sob orientação dele, até deixarmos a empresa e criarmos a Boca do Povo Serviços Ltda. para publicar o semanário Jornal da Cidade (foto 2), que circulou de 7 de outubro de 1980 a 7 de agosto de 1981. A equipe fazia tudo, da pauta à distribuição. Que experiência, quanto aprendizado!

A vida nos levou a caminhos distintos. Quando estava no Ceará, me escrevia cartas embaladas em lindos envelopes ilustrados por ele mesmo. Sim, Ivan era também talentoso artista plástico (seu perfil no Instagram @ivanmauricioarte é uma beleza).

Foi a ele que recorri para ilustrar meu cartão de Ano Novo 2021, o Jornal do Ano Novo. Quando agradeci pela generosidade, me disse: “Amigo, ficou muito bom. Sinto-me honrado de ficar ao lado da criatividade do Jornal do Ano Novo e da genialidade de Zé Limeira”.

Além de talentoso, Ivan era simples. Lembro-me bem de quando telefonei para me solidarizar devido à sua saída da assessoria de comunicação da Câmara de Vereadores de Olinda.

– Que foi que houve, Ivan?

– Tou muito velho pra ser safado.

Ao longo de todos esses anos, a única divergência realmente importante que tivemos foi durante a campanha presidencial de 2022. “Que, afinal, passou depressa como tudo tem que passar”, diria Gilberto Gil.

Ivan Maurício morreu nesta terça-feira (2), aos 72 anos de idade, após ter complicações de saúde.

Repito: guardo de Ivan ótimas lembranças, tanto no convívio pessoal quanto no dia a dia profissional. Inatacável, seu caráter. Ivan era uma pessoa honrada. Deus o receba, amigo! E obrigado por tudo. Os seus olhos escuros e vivíssimos e atentos e profundos me acompanharão para sempre.

Paulo André Leitão é Jornalista.