O texto abaixo retrata a realidade de boa parte das pessoas que concluem a faculdade e saem de lá sem saber como começar a aplicar o monte de teorias que aprendeu durante o curso, conhece alguém assim?

Sou formado mas no sei de nada
Me formei. E agora?

Se você formou ou está para formar e tem a impressão que não sabe nada, não se sinta tão mal, você não é o único. Mas porque isso ocorre? Vou dar minha opinião. Como sou discente e docente me sinto capacitado para opinar sobre os dois pontos de vista.

Se você tem a impressão de não saber nada, a tendência natural é de logo tentar achar um culpado. Será que é culpa do curso? Será que é culpa da instituição de ensino? Será que é culpa dos professores? Será que é culpa do aluno? Ou será que a culpa é da tia da cantina?

Este tema chega até ser engraçado. Lembro-me claramente quando formei (que não faz muito tempo). Nessa ocasião eu fiz a seguinte pergunta pra mim mesmo:

Pergunta pra mim mesmo: “Blz, fiquei aqui nesse curso por quatro anos e o que de fato eu sei?”
Resposta para mim mesmo: “puts, pqp não sei porra nenhuma…”
É amigo… e o pior que esse não é um sentimento só meu. Meus amigos que formaram comigo também me confessaram o mesmo sentimento, amigos que formaram depois idem, colegas de trabalho idem, meus alunos idem.

O interessante é que não importa qual foi o curso nem qual foi a instituição de ensino que o cara estudou. Todos têm o mesmo sentimento.

Mas então? Por que isso acontece? Na realidade, na visão que tenho é que academia e mercado não andam alinhados. No mercado a vida não é tão bela quanto na academia e na academia não se vê o que o mercado necessita.

Então o curso é responsável. Na graduação você vê um monte de matéria que basicamente então inseridas em um monte de disciplinas isoladamente, que dificilmente irá passar uma visão integrada de tudo. Existe um monte de disciplinas retardadas no meio. Na minha graduação, por exemplo, quase metade das disciplinas poderiam ser jogadas fora. Existem cursos que as disciplinas não são bem sequenciadas, a ementa não é bem elaborada, as referências bibliográficas são ruins e por aí vai.

Então a instituição de ensino é responsável. Pelos profissionais que contrata. Pela política que adota. Pela estrutura deficitária.

Então os professores são responsáveis. Quem já não teve um professor morcegão? Quem já não teve um professor que não dominava o conteúdo? Quem já não teve um professor que não tinha didática para ensinar? Quem já não teve um professor que não cumpria o plano de ensino? Quem já não teve um professor mala sem alça?

Então o alunos são responsáveis. Quando mata aula. Quando copia trabalhos. Quando não é curioso para saber mais do que é visto em sala. Quando fica com o Notebook ligado no MSN no meio da aula. Quando em vez de fazer para aprender fica reclamando de tudo. Quando é displicente. Quando acha que nada é importante.

E a tia da cantina? Coitada, essa não tem culpa de nada…

Mas isso não quer dizer que tudo é uma enganação. Existem cursos, instituições, professores e alunos excelentes. Eu em especial tenho que agradecer o pouco que sei a grandes professores que tive pelo caminho. Principalmente aqueles que tinham a fama de carrascos, tiranos, que não davam mole para aluno, que quase todo mundo era reprovado. Esses são os caras que eu mais agradeço hoje, na época eu tinha vontade de matá-los, mas hoje se sei alguma coisa, devo muito a pressão que sofri desses professores e hoje agradeço por isso.

(...)

Se você tem a impressão de não saber nada não quer necessariamente que você não sabe nada. Isso quer dizer que você tem muito o que aprender, mas pelo menos sabe que tem que aprender. Isso é um indício que você não é um acomodado. E os acomodados irão queimar no mármore do inferno.

Não obstante, as pessoas têm o costume de achar que as coisas que elas sabem são fáceis, mas elas esquecem o quanto foi difícil aprender, ou seja, depois que você sabe, tudo se torna fácil!

Agora um ponto é verdade. Na graduação você aprenderá a programar, e, programar é uma coisa, desenvolver aplicações é outra totalmente diferente. Quando o sujeito sai da escola sabendo programar e descobre que no mercado ele terá que desenvolver aplicações, então volta novamente a impressão de não saber nada. Conclusão, quem irá sobreviver? Irá sobreviver apenas aqueles que têm uma boa base teórica e é curioso por natureza. Caso contrário, será sempre um medíocre com ou sem escola.”

A verdade, nua e crua é que, o que temos presenciado é que as faculdades ensinam teoria mas esquecem de que a mesma não sobrevive por muito tempo sem a prática, no caso do advogado, a prática forense. Quando me refiro a prática forense, não estou me referindo somente a disciplina mas sim, aquela que se aprende batendo pernas dentro de um Fórum, de um Tribunal, ambientes propícios para todos aqueles que desejam ficar afiado de como tudo funciona mesmo na prática.

Costumo dizer, do alto de minha ignorância que, direito é pensar, detalhes, raciocínio lógico, coerente e rápido, advogados que não utilizam seus neurônios 24 horas por dia correm o risco de serem ultrapassado pela concorrência alguma vezes desleal e predatória. Sim, existe, pasmem ou não, advocacia predatória, aquela em que o advogado predador aceita qualquer causa por qualquer honorário. Culpa dele? Pode ser, ética cabe em qualquer lugar mas não cabe a mim aqui julgar os motivos de cada um.

Devo dizer que não adianta culpar a faculdade, professores ou a tia da cantina, eles já não fazem mais parte da sua rotina acadêmica, culpá-los agora seria incongruência de sua parte e não iria resolveria o seu problema de falta de prática forense. O fato é que uma coisa é está cheio de teoria na ponta da língua e no cérebro e outra completamente diferente e pô-las em prática em consonância com a nossa realidade forense e que diga-se de passagem, não é mole não.

Por muito anos, como serventuário da justiça pude presenciar muitos advogados iniciantes se perderem nos labirintos intermináveis do ambiente forense, sem saber o que fazer para saírem ou encontrarem a saída dos embólios jurídicos em que se meteram. De logo, aviso que sempre existe uma saída, o direito é uma eterna massa de moldar, cabe a cada um saber como moldá-la para que a prestação jurisdicional seja realizada e os clientes vejam a justiça finalmente triunfar, através do seu trabalho.

Não acredito em gênios do direito, acredito em advogado que estuda, se atualiza e ao mesmo tempo pratica o que estudou dentro do ambiente forense ou fora dele conforme seja a necessidade, a ousadia do profissional vale ouro na militância, aquele que for tímido e não ousar em sua faina jurídica vai encontrar muitas dificuldades. Curiosidade também vale pontos. Sejam humildes, se não sabe como começar ou continuar com um procedimento judicial busque saber com quem sabe, isso não é feio, é inteligente e providencial para o que está emperrando a sua advocacia. Quando aprender faça o mesmo com quem está começando, isso se chama humildade.

Uma péssima notícia aos que estão iniciando, o Direito é mutável, tudo muda todos os dias e da noite pro dia, o que significa que você será um eterno estudante enquanto estiver exercendo o seu múnus. Gostou?