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| "A América vai ser grande outra vez" |
Nos Estados Unidos, o grotesco e cada vez mais provável candidato republicano Donald Trump
faz vibrar a corda sensível da alma dos americanos brancos e
subempregados. Os últimos 40 anos prometeram a prosperidade. Entregaram a
pobreza escorada no Food Stamps, o programa de subsídio alimentar.
“A América vai ser grande outra vez” ou “Vamos devolver os empregos aos americanos”.
Em suas arengas, Trump promete impor uma tarifa de 35% sobre produtos
chineses, além de promover a volta das empresas americanas
(des)localizadas no México.
Para espantar a
estupefação, os economistas conservadores e os idiotas liberais gritam:
“Protecionismo! Populismo!” Os subempregados e precários estão se
lixando para o que pensam os economistas adeptos do livre-comércio.
Querem seus empregos de volta.
Vou relembrar o “fechamento” das
economias nos anos da Grande Depressão. Sugiro uma olhadela na lei
americana Smoot-Hawley, de 1930, que elevou brutalmente as tarifas. Em
seguida, a Inglaterra abandona o padrão-ouro em 1931, os Estados Unidos
caem fora em 1993. As tarifas e as desvalorizações competitivas
produziram uma brutal contração do comércio internacional. A deflação de
preços das commodities e produtos industrializados comprovou o
óbvio: se todos tentam desvalorizar, ninguém consegue, ainda que alguns
consigam mais que os outros.
Na Alemanha, Hjalmar Schacht, o
banqueiro de Hitler, lançou em 1934 o “Novo Plano”. O “Plano” impunha
uma brutal centralização do câmbio. Transações em moeda estrangeira não
poderiam ser efetuadas diretamente entre residentes e não residentes.
Tudo tinha de passar pelo controle e pela permissão da burocracia do
Reichsbank. A violação dessas normas era considerada “crime de alta
traição à Mãe-Pátria”. Os métodos extremos de controle cambial incluíam a
adoção de práticas de comércio bilateral com os países da periferia
europeia e sul-americana, que estavam praticamente alijados dos negócios
internacionais desde o crash de 1929.
Um livre-cambista pode degustar o texto do Tariff Act
saboreando a releitura da biografia de Schacht. Desgraçadamente, as
baboseiras do liberalismo econômico empurram as sociedades e suas
democracias para a destruição do liberalismo político.
Penso nos Estados Unidos e na China
empreendendo uma escalada protecionista na era da globalização. As
palavras de ordem do protecionista e populista Trump são proclamadas em
meio a insultos aos latinos e ameaças de violência contra os
adversários.
O establishment americano está à
beira do pânico. Diante da agressiva campanha eleitoral, a classe
dominante e dirigente já não fala apenas dos riscos envolvidos numa
possível eleição de Trump. Depois dos confrontos entre apoiadores e
oponentes do desvairado, republicanos “moderados” e seus financiadores
tratam de impedir a vitória do simulacro de Hitler.
Na Europa, a extrema-direita surrou Angela Merkel nas eleições regionais. Na opinião da revista Der Spiegel, Frauke Petry,
a jovem líder do partido Alternativa para a Alemanha, não oferece
alternativas. Só negativas: contra os refugiados, contra a Europa,
contra o euro, contra o Tratado Transatlântico de Comércio e
Investimento. Contra, contra, contra. A revista Der Spiegel não
apalpa: “A estratégia de apresentar uma solução única e incontestável
deve ser reavaliada. Caso contrário, o mundo estará encarando uma era na
qual serão cada vez mais fortes aqueles que não oferecem qualquer
solução, os que só oferecem rejeição e medo”.
No Brasil da Avenida Paulista, além das heranças e sestros da casa-grande,
pulsavam os desconfortos com a crise econômica deflagrada pelos
aloprados dos mercados financeiros, em contubérnio com um governo
aturdido por suas próprias incoerências. Vou repetir o aconselhamento da
revista Der Spiegel: “A estratégia de apresentar uma solução
única e incontestável deve ser reavaliada. Caso contrário, o mundo
estará encarando uma era na qual serão cada vez mais fortes aqueles que
não oferecem qualquer solução, os que só oferecem rejeição e medo”.
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| No caso do Brasil, o perigo que reside na tentativa inexorável de oferecer uma solução única |
O arguto leitor de CartaCapital há
de constatar, por aqui são raros os meios de comunicação que
conseguiram resistir à mesmice das soluções únicas e incontestáveis.
Isso quando não fomentam reações que prometem levar o País para um
conflito. Os editoriais e os articulistas se esmeram na arte de repetir
banalidades abstratas que se chocam com os movimentos da economia
concreta e com as realidades da vida das pessoas de carne e osso.


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